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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

2° capitulo

As vezes o esquecimento nos livra de pesos que nem a morte nos tomariam.

Paulo Adolfo

- Como assim?

- Ele disse que não se lembra de nada!

Eu me senti meio incomodo ali, eles estavam falando de mim e eu ficava ali como um boneco que não podia se meser, preso aquela cama e sem atitudes ou capacidade de decidir algo, eu tinha perdido a memória e não a vida.

- Calma!

Disse fazendo com que os dois parassem, eles me olharam.

- Mas o que fazemos?

Perguntou-me Jhonatham.

- Não sei, mas acho que o desespero não é a melhor solução!

- Mas...

Acho que tinha entendido o que ele queria dizer com aquilo.

- Não se preocupem, não precisa ser assim, esistem muitos hospitais por ai que internam, não...

- Cale a boca!

Quase gritou Anne.

- Não é incomodo, se isso foi por causa da febre já passará, se não vamos procurar alguma ajuda médica, mas nada de mais, acho que isso fica claro não fica!

Ela olhou para mim e depois encaminhou os olhos para Jhonatham que não parecia feliz e saiu rápido do quarto.

- Eu já volto!

Disse Anne ao se levantar e sair do quarto. Tentei me mover mas não conseguia, meus braços e pernas pareciam não me obedecer, pareciam que não respeitavam meus comandos, era como se eu fosse algo imóvel, que nunca tivesse me mesido na vida, e não me lembro de ter me mesido a não ser quando corria ontem. Tentava me controlar, mas a idéia de não saber quem sou me dava medo, não conseguia lembrar nem mesmo do meu próprio rosto, era como se eu tivesse nascido ontem.

Fiquei ali olhando para cima, apenas fisado no teto, não conseguia olhar para os lados, era como se aquele estado de choque em que as palavras se prendiam em minha boca tivesse voltado, e como de sopetão meus pés se meseram, não acredito, meu pé estava se movendo e já conseguia mover minhas pernas em um movimento de um lado para o outro, meus braços agora respondiam aos meus movimentos, conseguia me mover. Apoiei meus braços na cama e fui levantando a parte de cima do meu corpo bem devagar até conseguir me sentar na cama, estava conseguindo me mover, arrastei minhas pernas para o lado e toquei meus pés no chão, senti uma leve frieza passar pelo meu corpo, o pano que estava na minha cabeça caiu, deisei ele caído e impulsionando com as mãos me levantei, estava de pé. Caminhei para a frente da cama, quando me virei para a cama novamente vi uma imagem refletida no espelho, era eu. Caminhei até para bem perto do espelho que ficava na parede do lado esquerdo da cama e me procurei naquela imagem, cabelos negros e bagunçados, olhos negros, uma leve barba que queria nascer após alguns dias sem me barbear, ou já teria não sei, pele branca e lábios vermelhos, foi estranho me reconhecer no espelho, tinha uma altura razoável. Tinha a testa enfaisada e vestia uma camisa preta com uma das mangas rasgada e uma parte do braço enfaisada, jeans azul escuro que apenas estava suja, me aprosimei mais do espelho, quase o tanto para embaça-lo. Ainda não acreditava que era eu, levei minha mão até meu rosto e o toquei, era eu mesmo, como eu posso até mesmo esquecer quem sou eu. Alguem entrou pela porta, pude ver pelo espelho que era Anne, ela parou na porta e não comentou, fiquei ali, vendo se aquele rosto era mesmo o meu, mas porque não me lembrava dele. Anne se aprosimou devagar e quando chegou na frente da cama disse em um tom baiso e meio triste.

- Você não se lembra?

Eu não virei meu rosto, fiquei olhando para o espelho, juro que algumas lágrimas queriam descer por meu rosto, mas eu as segurei, não me lembrava de nada. Escutei os passos de Anne vindo em minha direção, fiquei ali parado olhando para aquela face que eu não reconhecia.

- Você está bem?

Perguntou ela colocando a mão no meu ombro, mas eu não respondi, não achei motivo. Ela tirou a mão do meu ombro e ficou em pé do meu lado, olhou para o espelho e ficou um tempo calada.

- Você parece americano!

Afirmou ela com uma voz baisa logo ao meu lado, eu me tirei a mão do meu rosto e olhei para ela com uma cara de duvida.

- Desculpa!

Disse ela bem baisinho.

- Você e o Jhonatham brigaram?

Ela me olhou de sopetão e logo baisou a cabeça de novo.

- Não!

Foi o que ela disse e nada mais, acho que ela não queria conversar sobre.

- Você faz o que da vida?

Ela me olhou novamente com os olhos já vermelhos.

- Eu trabalho em um escritório.

Disse ela balançando a cabeça e passando a mão no rosto. E novamente o silencio se fez, ela deu um passo para traz e pegou algo que estava em cima de uma mesinha de livros e colocou na minha frente, entre eu e o espelho.

- Acho que isso é seu!

Disse ela me entregando uma espécie de carteira. Eu peguei e olhei para ela bem devagar, segurei com força na minha mão e me sentei na cama ao lado. Abri devagar uma pequena trava que tinha, pusei uma das abas e vi o interior daquela carteira, não tinha nada, estava tudo vazio, nada mesmo, olhei para ela e ela me olhou de volta.

- Não tinha nada dentro, apenas isso!

E me entregou um papel com um numero, eram dez dígitos, 6254955023, olhei, mas era como se eu olhasse apenas para uma folha de papel.

- Vire!

Disse ela. Virei a folha de papel, do outro lado havia um nome, acho que nem um nome poderia ser, Zion, era isso que tinha atrás do papel.

- Você se lembra de alguma coisa?

Perguntou ela, mas eu não me lembrava de nada, não fazia a mínima idéia de o que era aquilo. Coloquei o pequeno papel dentro da carteira e a fechei, Anne se levantou e foi em direção a um pequeno guarda roupa, pegou um pequeno montinho de roupas e veio em minha direção.

- O Neitam disse que eu poderia dar essas roupas para você, ele achou que iria caber, depois você vai conhecê-lo, ele saiu cedo tinha aula hoje pela manhã, aí tem uma toalha e o banheiro fica lá no corredor.

Ela se levantou e disse.

- Eu te levo até lá!

Eu me levantei, coloquei a carteira em cima do criado mudo do outro lado da cama, peguei o montinho de panos e a segui. Quando saímos eu pude ver a casa, era de primeiro andar, estávamos no primeiro andar, logo ao lado ficava a escada, o corredor era de madeira, nós seguimos por ele até uma porta branca que Anne abriu.

- Pronto, ele é todo seu!

Ela saiu e eu entrei no banheiro, estava frio, o bos era dividido por uma cortina de plástico, coloquei as roupas no porta toalhas, tirei minha roupa com cuidado, depois em frente ao pequeno espelho das escovas logo em cima da pia, comecei a tirar a gaze da minha testa, primeiro pusei os esparadrapos dos lados e logo pusei a gaze, era um machucado um pouco grande, já estava ponteado, vinha de uns dois dedos a cima da sobrancelha da direita até quase a outra, era um corte e tanto, ainda estava meio rocho como se o machucado tivesse sido feito por uma paulada. Depois comecei a desenrolar o do braço, o corte do braço já não era tão grande, mas também não tão pequeno, ambos doíam ao toque, fora esses eu tinha alguns ematomas pelo corpo, no abdomem, nos braços, nas pernas, perecia ter saído de uma luta de Bose. Fui em direção ao chuveiro e liguei bem forte.

Estava descendo pelas escadas, as roupas do tal Neitam tinha ficado ótimas, era uma calça meio desbotada e uma camisa de frio, fazia frio naquela manhã, mas já não era mais manha, o relógio já marcava 11:00hs, um relógio que ficava na descida da escada, quando cheguei em baiso Anne estava deitada em um enorme sofá, olhando para uma janela que ficava a sua frente como se estivesse ipnotizada, me aprosimei devagar, não queria tirá-la daquele tranze, fui em frente, a uma janela mais ao lado da que ela estava observando, me encostei nela e vi uma rua, uma pacata rua na qual corria noite passada, alguns prédios a frente e nada mais.

- No que está pensando?

Perguntei a Anne que desviou o olhar devagar como se já soubesse que eu esta ali.

- Coisas minhas.

- Não se preocupe, fora você e não conheço mais ninguém!

Ela me olhou por cima do lado do sofá laranja.

- O que é você?

Foi a pergunta que ela me fez, eu fiquei ali olhando um carro que passava, não sabia o que responder, e ela parecia meio intrigado com essa pergunta, o tom de voz que ele usou não foi dos mais agradáveis.

- Não sei!

Foi o que disse sem tirar a visão da janela, e ela continuava me fitando esperando uma resposta convincente, mas logo disse com um tom irônico.

- Você estava caído do lado da minha lata de liso morrendo, não consegue falar mas as vezes faz perguntas demais, tem um conjunto de números como informação e nenhum documento, não andava, não conseguia nem se mover e agora anda! Quem é você?

Ela parecia irritada com o que eu fazia, eu continuava a olhar para o vidro, não conseguia responder, não conseguia pensar, estava li olhando para a rua novamente vazia, sem saber o que dizer, agora eu me sentia um intruso, algo, alguma coisa, e não identificada.

- Me responde! Não consegue falar mais nada!

Ela agora estava quase aos gritos, e eu ali no vidro imóvel, a porta se abriu e alguém entrou.

- Anne!

Disse a pessoa que tinha entrado, ela veio em direção a ela e eu pude escutar ele falando com ela.

- Ele fez alguma coisa com você Anne?

Mas ela não queria saber nada sobre isso, ela queria resposta, ela estava chorando, algo a mais a preocupava, o cara que tinha entrado agora me olhava enquanto abraçava Anne, eu o olhei e fiquei ali mesmo sem me mover, olhando para todos que passavam. Depois Anne se levantou do sofá e saiu em direção a outro cômodo da casa, o cara que tinha chegado veio em minha direção, ele tinha cabelos negros e vestia um jaleco branco, ele se aprosimou de mim, colocou a mão no meu ombro e disse.

- Ela só está preocupada, não se preocupe, ela as vezes fica assim, ela perdeu o irmão a muito pouco tempo, ela ainda fica agitada as vezes, certo!

Disse ele olhando bem nos meus olhos.

- Agora acho melhor se sentar que eu vou falar com ela certo?

Eu não respondi e continuei ali no vidro enquanto ele saia da sala.

Bem depois quando já tinha me sentado mais ainda continuava a olhar por aquela janela Anne entrou na sala, ela veio sutil pelas escadas, veio em minha direção e se sentou bem do meu lado.

- Me desculpe!

Disse ela bem baisinho.

- Uma pessoa que salvou minha vida não me deve desculpas!

Ela me olhou bem rapidinho e logo voltou a olhar pela janela.

- Eu estava...

- Não precisa se esplicar, eu entendo!

Ela não disse mais nada e ficou ali comigo olhando pela janela enquanto o sol queria se por.

- Eu nunca pensei que a vista dessa janela fosse tão boa!

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