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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

1º cápitulos, boa leitura

Às vezes temos muitas decepções, mas um dia iremos afogá-las.
Paulo Adolfo


A única coisa de que me lembrava era de estar correndo, só sabia que tinha que correr, algo descia por meu rosto, era sangue, já estava de noite e eu corria por uma rua, não havia movimento, escutava alguém me seguindo, tinha passos sorrateiros e rápidos, eu corria tanto e ao mesmo tempo cada passo atrás de mim era mais próximo e tal passo continuava com tal sutileza e desprezo com meu sofrimento. Minhas pernas queriam parar, meu coração queria parar, minha cabeça doía muito, sentia meus braços arderem em brasa, mas corria. Seguia em frente pela rua até encontrar a entrada de um beco, entrei por ele, tudo estava escuro, corria pelo beco me segurando pelas paredes, tentando me manter em pé, quando dobrei em outra entrada estava em outra rua, os passos ainda me seguiam, corri pela rua, e quando notei que os passos se aproximavam entrei em um beco que não tinha saída, do lado havia uma pequena varanda com algumas latas de liso, me escondi atrás delas, respirava ofegante a cada passo que escutava, a rua estava deserta, ninguém passava, os passos se aproximaram da entrada do beco, os passos pararam, tudo parou, naquele momento acho que até meu coração parou, senti minhas mãos frias em contraste com o sangue quente que descia pelo meu rosto. Os passos vinham pelo beco, me encolhia ao máximo, podia escutar a respiração dele, por uma brecha podia ver a apenas o contorno daquela figura, alta, com um casaco e um chapéu, além dos sapatos finos. Ele se aproximava de mim, ele estava muito próximo de onde eu estava, quando sua mão tocou em um saco de liso um carro freou bem na frente do beco, ele se virou e foi em direção ao carro, abriu a porta e entrou. Minhas pernas tremiam muito, escutei alguém chegando próximo de onde estava, mas vinha de dentro do apartamento que fechava o beco, tentei me mover para pedir ajuda, a luz acendeu, o máximo que consegui foi cair, cair de frente no chão, não conseguia mais sentir meu corpo, escutei um grito, e desacordei.
Abri um pouco os olhos, não por querer, mas sim por causa de uma luz que tocava minhas pupilas, aos poucos fui piscando e conseguindo abrir os olhos. Quando abri os olhos não vi ninguém, tentei mover meu corpo mais não consegui, uma dor na perna e no braço me impossibilitou esse movimento, olhei para os lados, estava em um quarto todo revestido em madeira, deitado em uma cama e enrolado com um lençol creme escuro. Sentia alguma coisa na minha testa, era quente, acho que deve ser algum pano, como não vi ninguém recostei minha cabeça novamente na almofada, minha cabeça doía, então fui fechando os olhos quando alguém abriu a porta que ficava a minha direita, era um homem, meio baixo, de cabelos loiros e uma cara de sono, deve ser de manhã, ele estava com uma bandeja com algumas coisas em cima.
- Olá!
Disse ele da porta sem se aproximar, não me assustei com ele, ele vestia branco, se estivesse morto pelo menos estaria no céu. Acenei com a cabeça em sinal de positivo bem devagar, ele então se aproximou de mim, empurrou o abajur do criado mudo e se sentou, colocou a bandeja no colo e olhou para mim.
- A Anne achou você ontem caído lá fora, teve sorte!
Ele falava comigo terminando as frases como se dissesse, “fale alguma coisa!”, mas as palavras remoíam em minha cabeça e não conseguiam achar o caminho da boca, então apenas fiquei olhando o jeito como ele me interrogava com o olhar.
- Então!
Ele continuava com seu “me pergunte!”, mas eu não disse nada, ele pegou alguns comprimidos que estava em cima da bandeja e colocou em um copo de água que trouxe de encontro a minha boca.
- O que é isso?
Ele parou o copo no meio do caminho e o voltou ao colo.
- Ficou esperto em! Não se preocupe isso é um analgésico, por causa do corte na cabeça você teve febre a noite, então acho melhor tomar isso se não quiser que piore!
Ele voltou com o copo e colocou na minha boca, não foi tão difícil assim engolir aqueles três comprimidos.
- Consegue mover o braço?
Perguntou ele.
- Qual?
- Os dois.
Tentei mover meus braços, mas pelo incrível que pareça não consegui, apenas movi os dedos da mão direita.
- é, acho que vai precisar de algum repouso, foi o que o médico disse nada mais, foi uma pancada e tanto, por pouco você não morreu cara!
Ele me olhou com uma cara séria, mas logo abriu um sorriso, se levantou e da porta disse.
- Mas não se preocupe, você vai ficar bem, e daqui a pouco eu trago algo para você comer!
E foi embora. Fiquei ali deitado com a cabeça colada no travesseiro, olhando para o teto, não conseguia lembrar de nada da noite passada a não ser de ter corrido pela cidade, fora isso nada mais. Fechei meus olhos, tentei me lembrar de algo, me veio na mente a figura daquela pessoa que me perseguia, quem era...
- Olá!
Disse uma pessoa na porta que me fez dar um pulo, na verdade um mini pulo, ela se aproximou de mim bem rápido.
- Me desculpe, eu...
Ela colocou novamente o pano na minha cabeça, depois colocou a bandeja com uma tigela em cima que exalava uma fumacinha no criado mudo, ela ficou em pé do lado da cama, me olhou com uma cara de interrogação, ela tinha cabelos castanhos e ondulados, pele branca e olhos caramelos.
- Eu pensei que estivesse acordado.
E lá vêm de novo aquelas afirmações com um tom de “me diga!”, mas novamente as palavras remoíam na minha boca.
- Certo, não quer falar, então acho que posso me comunicar com você por balançadas de cabeça, ou meu tipo mais simples, engula tudo! Então vou começar, gosta de sopa?
Ela me encarou, não viu nenhum movimento e logo continuou.
- Estamos começando com o engula tudo, eu digo, se prestar atenção pode engolir!
Ela levantou um pouco minha almofada, pegou a bandeja e colocou no colo quando se sentou no criado mudo.
- O Jhonatam disse que você não consegue mover seus braços, então acho que tenho que colocar na sua boca!
Ela começou a me servir a sopa e passou um bom período calada, ela tinha uma espécie de mágoa nos olhos, eram lindos olhos mas olhos de mágoa, algum tipo de rancor, quando passava muito tempo à encarando ela sorria de leve e mudava o olhar. No intervalo de uma colher de sopa as palavras se organizaram na boca.
- Porque você me ajudou?
Ela teve um susto.
- Agora você fala em!
Apenas balancei a cabeça e a fisei com um olhar de “me responda!”, e ela desviando o olhar, procurando algo em que fisar o olhar.
- Não á alvo melhor que o interrogador!
Ela me olhou bem fisamente quando eu disse isso.
- Você é o que?
Ela agora parecia interrogativa, não estava mais com um rosto tão simpático, mas logo se voltou para mim e disse quando colocava mais uma colher de sopa cheia na minha boca.
- De primeira impressão pensei que fosse um zumbi, você caiu todo ensangüentado na minha frente.
- E porque você me ajudou?
Ela me encarou de novo e colocou outra colherada.
- Não sei!
Ela disse isso sinceramente, mas ela não conseguia me fisar o olhar, ela olhava para os lado.
- E você, quem é você?
Não tinha pensado nisso, isso não tinha passado pela minha cabeça, quando tentei retornar a alguma coisa antes de ontem, não conseguia.
- Vai me dizer que esqueceu!
Disse ela com ar irônico e risonho, mas eu não sorri, ela mudou a face para uma mais interrogativa e mais preocupada e disse.
- Você esqueceu?
Eu tinha sim esquecido.
- Mas...
Eu não sabia o que dizer, como, agora tinha percebido que não lembrava de nada da minha vida, nem mesmo o meu nome.
- Acho que isso pode ser por causa da febre!
Disse ela meio apavorada.
- Jhonatham!
Gritou ela ainda sentada no criado mudo perplesa, eu só conseguia olhar para os lados a procura de alguma coisa que eu não sabia o que era, Jhonatham subiu correndo as escadas e abriu a porta de supetão.
- O que foi Anne?
Ele parecia preocupado. Ela olhou bem nos olhos dele e disse.
- Ele não lemnbra de nada!

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